Mostra de Edições Subversivas [Lisboa 26, 27 e 28 de Setembro]

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Compas de Portugal fam um convite a esta primeira Mostra de Ediçoms Subversivas, na que @s piratas de Abordaxe teremos a oportunidade participar e partlihar com el@s.

Na realidade em que vivemos, poucos são os espaços não virtuais de confluência criados para o debate e exposição de ideias críticas dos vários processos de dominação e exploração em que nos vemos enredados. A criação desses espaços é de vital importância na construção de um discurso que ataque esses mesmos processos, gerando uma cumplicidade prática entre os diversos indivíduos que constituem a base dessa crítica. É nesse sentido que criamos este espaço de debate e de mostra de edições subversivas, para que continuemos a fazer da palavra uma arma que ataque tudo aquilo que repudiamos nesta sociedade e para a construção de alternativas que nos libertem das relações de dominação nela prevalecentes. Durante três dias haverá espaço para a apresentação de livros, revistas, jornais, fanzines, música e vídeo, ponto de partida para o debate de ideias e práticas que contribuam para a subversão dessa mesma realidade em que vivemos.


26 de Setembro

16h – Abertura.

18h – Apresentação do livro “El 1000 y la OLLA. Agitación armada, formación teórica y movimiento obrero en la España salvaje”, com a presença do seu co-autor Ricard Vargas, ex-membro do MIL e da
OLLA.

A finais dos anos sessenta e princípios dos setenta, na Catalunha como noutros pontos da Europa e do Mundo, assiste-se à intensificação da luta de classes, acompanhada pela radicalização do movimento operário que adquire, ali, um cariz autónomo, anti-autoritário, anti-capitalista e assembleário.
É neste contexto que surge primeiro o MIL (Movimiento Ibérico de Liberación) e depois a OLLA (Organizació de Lluita Armada), siglas não auto-designadas de grupos autónomos que têm por objectivo apoiar e radicalizar as lutas operárias, como reacção ao controlo por parte do Partido Comunista (PSUC) dentro das Comisiones Obreras (CCOO?).
Os membros destes grupos autónomos estavam envolvidos nas lutas operárias de Barcelona, outros no Sindicato Democrático de Estudantes, nenhum deles tinha combatido na Guerra Civil, mas estavam influenciados pelas colectivizações da Catalunha e Aragão dos anos 1936 e 37 e pela resistência da guerrilha anarquista, que tinha lutado no interior do país contra o franquismo até 1963 (ano em que foi morto o último guerrilheiro), de quem viriam a ser utilizadas algumas das armas.
Às influências do anarquismo e do marxismo heterodoxo conselhista juntavam a do situacionismo. Numa época em que proliferavam as greves selvagens e fervilhava a luta armada, mantinham relações com os grupos e lutas mais radicais da Europa. Actuavam a partir de dois centros: Barcelona e Toulouse, no sul de França, e, desde o início, tiveram a preocupação de desenvolver como componente básica a produção teórica e a divulgação nas fábricas de textos de diversas origens desconhecidos até então em Espanha, dedicando a esta “biblioteca”, como eles próprios designam esta frente, uma parte substancial do dinheiro expropriado nos assaltos a bancos, destinando outra às caixas de resistência, aos fundos de greve e ao apoio a operários despedidos nos conflitos laborais.
Desarticulado o MIL em Setembro de 1973 (curiosamente em congresso realizado no mês anterior tinha-se auto-dissolvido como organização politico-militar, podendo ler-se neste livro as “conclusões definitivas”), na sequência da acção repressiva de que resultaria a prisão de vários membros, entre os quais Salvador Puig Antich, o último a quem Franco condenou à execução pelo garrote vil, diversos grupos autónomos continuaram a luta revolucionária que tinham iniciado já em 1972, através de expropriações, sabotagens e ataques às forças repressivas e do capital, que se prolongariam até ao início dos anos 80, já depois da transição que se seguiu à morte de Franco.
O livro inclui uma extensa cronologia (1967-1976) sobre o movimento autónomo catalão, MIL e OLLA. O texto principal, da autoria de Ricard de Vargas-Golarons, é a transcrição de uma conferência sobre o MIL e a OLLA realizada em Madrid em 2010 numas jornadas sobre autonomia operária. Além deste, o livro contém dois artigos sobre o MIL do mesmo autor, publicados na imprensa catalã. Inclui ainda dois artigos inéditos, escritos na prisão pelo membro do MIL, Oriol Solé Sugranyes, assassinado em 1976 pela Guardia Civil na sequência da fuga de Segóvia, e um texto de Jean Barrot, “Violencia y Solidariedad Revolucionarias”, de 1974.

Klinamen, Madrid, 2014

20h – Jantar.

21h30m – Apresentação do livro “Manual de Resistência Civil” de Pedro Bravo, com a presença do autor.
O direito de resistência e a desobediência civil. Se o direito de resistência se enquadra no espírito jurídico da Ordem vigente, a desobediência civil procura a disrupção da Ordem deste mundo, uma transformação real da vida em sociedade. Como se chega a desobedecer?

Letra Livre, Lisboa, 2014



27 de Setembro

13h – Abertura.

14h – Apresentação do livro “A Arte de Viver para a Nova Geração”, de Raoul Vaneigem, com a presença do editor.

Livro de referência de Raoul Vaneigem, que serviu de alimento teórico para o momento revolucionário mais significativo do século XX, o Maio de 68, tornando-se uma obra marcante dos anos 60.
Num estilo poético e intempestivo, Vaneigem denuncia os sortilégios da sociedade de consumo, proclama a necessidade de inverter a ordem social dominante e incentiva as novas gerações a viverem em função do desejo e do prazer.

Letra Livre, Lisboa, 2014

16h – Apresentação da revista anarquista “Abordaxe”, com a presença dos editores.

“Abordaxe” surge da iniciativa de várias individualidades anarquistas galegas que, depois de uma assembleia e de vários meses de concretização de objectivos cúmplices, decidiram criar uma rede de comunicação escrita, que deu lugar ao nascimento de uma revista em formato papel como meio de expressão. Com quatro números já editados, continuamos a ter em conta a edição de novos números, tentando implicar mais gente afim aos seus conteúdos. No último número contamos com a colaboração de companheiros e companheiras, mesmo de outros lugares, como Pedro García Olivo, Miquel Amorós ou Alfredo Bonanno, aproveitando a sua passagem pela Galiza devido às Jornadas Anarquistas que celebramos desde há anos na Galiza enquanto individualidades anarquistas.

18h – Apresentação da revista de pensamento crítico “Cul de Sac”, com a presença dos editores.

A revista de pensamento crítico “Cul de Sac” revê-se na crítica radical ao processo de modernização capitalista, à industrialização da existência e às formas culturais nascidas desta “Era da submissão”. Partindo de diversas análises sobre o papel do Estado e da Técnica neste processo (como os realizados por Jacques Ellul, Lewis Mumford, Ted Kaczynski, Encyclopedie des Nuisances ou pelo boletim de crítica anti-industrial Los amigos de Ludd), Cul de Sac recolhe o testemunho de publicações como Resquicios, que fizeram a difusão da crítica ao desenvolvimento industrial no estado espanhol e no seio de algumas mobilizações em defesa do território.
A crítica que tentamos desenvolver não cede ante as palavras de ordem que clamam por uma melhor partilha da riqueza produzida, questionando essa mesma riqueza e lembrando que os limites externos que o crescimento económico tentou ignorar apresentam-se a cada dia que passa sob novas formas de opressão social e de técnicas destrutivas de exploração do meio natural.
Por isso, a nossa linha editorial enfrenta tanto os defensores do crescimento económico e do liberalismo selvagem, como qualquer forma de social-democracia ou “socialismo do séc. XXI” que, nos aspectos essenciais do industrialismo, partilham a mesma visão e os mesmo valores.
Revemo-nos naquela parte do movimento anarquista histórico que reivindicou uma transformação radical dos modos de vida, equilibrados com o meio natural, de base fundamentalmente agrária, mas enraizados no espírito da ilustração e do livre-pensamento, cuja base orgânica era o município livre.
Antecipando o posterior debate, sustentaremos que uma resposta anarquista ao estado de coisas actual deveria assumir a impossibilidade de reformar a sociedade industrial, e que o único caminho coerente que o movimento libertário tem é minar as bases do mundo desenvolvido através da defesa do território e da deserção activa dos movimentos e lutas que têm a pretensão de melhorar as condições de vida para tornar mais suportável a opressão, sem tentar destruí-la.
Na apresentação serão resumidas as teses principais dos três monográficos da Cul de Sac que apareceram até hoje:
Nº 1. Apontamentos para uma crítica do progresso.
Nº 2. Internet e novas tecnologias, o culminar da desapropriação?
Nºs 3/ 4. Pós-modernidade: da crítica à impostura.

20h – Jantar.

21h30m – Exibição do documentário “C.R.E.A. – Colectif pour la Requisition, l’ Entraide et l’Autogestion” de João Garrinhas e Susana Costa, seguida de conversa com os realizadores.

Em Toulouse, França, o Colectif pour la Requisition l’Entraide et l’Autogestion – C.R.E.A. -, luta pela ocupação de espaços vazios para alojar quem precisa e para dinamizar actividades. Este movimento social autogerido, formado por uma aliança de anarquistas, activistas, trabalhadores sociais e imigrantes, responde sobretudo às necessidades de alojamento de famílias de imigrantes ilegais com crianças, sob a campanha ‘zero crianças na rua`. Em Março de 2012, o Município de Toulose ordena o despejo de 40 habitantes do Centro Social ocupado, ao qual se segue a resistência, o tribunal e a expulsão. Passámos por lá e registámos para partilhar.
O C.R.E.A. continuou a ocupar edifícios e a experimentar novas formas de organização, alternativas ao Estado e às políticas de persistência da miséria.

Língua: Francês e Castelhano
Legendas: Português
Duração: 18 min.
Ano: 2014
Produção: Outros ângulos



28 de Setembro

13h – Abertura.

14h – Apresentação da brochura “Um espaço indefensável: O ordenamento urbano em tempos securitários” de Jean-Pierre Garnier, com a presença dos seus tradutores e editores.

A globalização do capitalismo tem por efeito fragilizar, pauperizar e marginalizar largas franjas das classes populares. Face às «desordens locais» que daqui resultam – violência, falta de civismo e insegurança –, os poderes públicos põem a funcionar dispositivos de «pacificação» nos quais o urbanismo e a arquitectura são chamados a contribuir.
Está a ser posta em prática uma política urbana que implica a remodelação física do espaço com o objectivo mais ou menos explícito de defesa social contra um novo inimigo interno – não mais o «subversivo» que queria, como no passado, derrubar a ordem social, ainda que o militante contra a globalização neocapitalista também seja classificado como tal se infringir a lei, mas o «mau pobre», aquele que, de uma maneira ou de outra, vem perturbar a ordem pública, nem que seja pela sua simples presença, como no caso de mendigos ou sem abrigo.
Assim sendo, a reconfiguração do espaço público deve, ao mesmo tempo, dissuadir o novo «inimigo interno» de passar à acção e facilitar a repressão, confirmando também a ligação entre urbanismo e a manutenção da ordem social.

BOESG, Lisboa, 2014

16h – Apresentação do livro “Desesperar” de Pedro García Olivo, com a presença do autor.

Margem, fuga e insubmissão

Desesperar, ensaio livre, constitui uma alegação contra a Modernidade ocidental. Descreve o mundo rural-marginal através das palavras e das acções de Basilio, pastor antigo; e, como num jogo de espelhos, reflecte a “mentira interior” da nossa Civilização. Olha para a margem, preconiza a fuga e alenta a insubmissão.
Late na ruralidade marginal uma Diferença que nos questiona (apontando para o absurdo de um racionalismo desalmado, ébrio de abstracções homicidas e de universalismos sangrentos; de um produtivismo suicida, disposto a dar a machadada final à Biosfera; de uma estatização devoradora de toda a autonomia individual e de toda a organização comunitária; de uma ideologização descomunal que povoa de auto-enganos justificadores e de fundamentalismos etnocidas tanto o nosso coração como o nosso cérebro; de essa forma de Única Subjectividade planetária que homologa o homem do Capitalismo tardio sob o rótulo da in-distinção depreciativa e da docilidade auto-repressiva,…)
De uma diferença ameaçada, talvez em vias de extinção, o mundo rural-marginal não se deixa apreender pela nossa Razão esfarrapada e escapa às capacidades “modernas” (ilustradas, urbanas, caligráfico-tipográficas) de análise e de exposição. Por isso, aproximamo-nos das aldeias de montanha recônditas, dos pastores tradicionais que as habitam, com os modos de uma literatura consciente dos seus limites, desde uma perspectiva “poética” – num amplo sentido.
Desesperar foi forjado na serra, acompanhando um rebanho de cabras, na paz dos antigos pastores, mas como um artifício de combate: contra as sociedades democráticas ocidentais e contra os homens que nela se consomem (abominadores da margem, ineptos para a fuga, submissos até à loucura), lança a funda de uma terrível acusação.

Textos Subterrâneos, Almada, 2014

18h – Apresentação do livro “Deus tem caspa” de Júlio Henriques, com a presença do autor.

O néon-realismo, óbvia alucinação, reclama um curto-circuito, destinado a romper com as coisas do decoro. Uma delas, central, é o realismo. O realismo faz parte da cartilha automática pela qual os indivíduos devem aprender, desde crianças, a respeitar os pilares do poder: Estado, Economia, Deus Dinheiro. Na sequência desse douto aprendizado, a que a família e a escola dão início, os poderes que submetem os humanos transfiguram-se, por artes mágicas, de farsa sanguinária em sacralizações.
Daí não ser realista querer acabar com a alienação do trabalho, com a escola obrigatória, com os governos, com os bancos seus parentes, com as múltiplas formas da prostituição, da intelectual à sexual, com os feixes de infâmias. Daí não ser realista querer fomentar relações assentes no apoio mútuo, na rejeição do despotismo pós-moderno, na autonomia comunitária das pessoas, na livre criação.
A alucinação, para desintegrar os fundamentos de um mundo alicerçado na impostura e no massacre, é higiene mental. Porque da mente – do ponto de vista – tudo vai depender.

Antigona, Lisboa, 2014.

20h – Jantar

21h30m – Exibição do documentário “Revolução Industrial” de Tiago Hespanha e Frederico Lobo, seguida de conversa com os realizadores.

O Vale do Ave é, desde há mais de um século, um território tomado pela imposição da indústria. Entre ruínas e fábricas em funcionamento, desce-se o rio numa viagem pelas margens do presente, desenterrando as marcas do passado.

Língua: Português
Duração: 72 min.
Ano: 2014
Produção: Terratreme filmes

No decorrer da Mostra de Edições Subversivas irão estar presentes várias distribuidoras e editoras de material subversivo.

www.mostradedicoesubversivas.tk

mostradedicoesubversivas@riseup.net