Roda de Estudos Negra Bonifácia (REANB)
Espaço Público da Organização Resistência Libertária (ORL-CAB)
Somos uma Roda de estudos, mas não só estudaremos, refletiremos ou criticaremos academicamente por criticar. Nos propomos a ser um espaço de propaganda e agitação. Objetivamos ser um lugar de autoformação; autoidentificação; fortalecimento da luta antiautoritária Negra e produção de teoria e prática, conforme nossos diálogos e vivências com o cotidiano racista da sociedade capitalista. Uma Roda de Estudos sobre a luta antiautoritária Negra é em essência um instrumento de intervenção política revolucionária; é um espaço que te convida para entrar na Roda e um lugar de resistência e autodefesa nossa, pessoas negras, desde baixo e à esquerda sempre.
A Roda de Estudos Anarquista Negra Bonifácia é uma ferramenta que visa contribuir com a luta cotidiana, construindo com COR os alicerces para a revolução social, a revolução Negra e a real liberdade e igualdade política, econômica e social. Queremos denegrir todos os lugares, ruas, becos e vielas, colocar fogo no engenho, na casa grande, no capital e no racismo!
A Roda antiautoritária recebe o nome da Negra Bonifácia. Mas quem foi Bonifácia? Bonifácia foi uma mulher escravizada desde o nascimento, e que foi acusada de ter matado o filho de “seu proprietário”, Joaquim Carpina, fato que ela negou ter cometido. Num julgamento de cartas marcadas, Bonifácia foi condenada ao enforcamento, vindo a ser morta no dia 22 de setembro de 1842, no campo do paiol; hoje, atual Passeio Público. Provavelmente Bonifácia nasceu nessas terras, que nunca foram alencarinas e nunca serão, pois o território em que pisamos de ampla maioria Negra, quilombola, camponesa e indígena não pode receber o nome de uma família racista e defensora da escravidão.
Espaço de propaganda e agitação
Na propaganda, difundiremos materiais produzidos pela Roda de Estudos sobre a luta Antiautoritária Negra. Podem ser lançados: notas de escurecimento, zines, textos e materiais online, além de textos que resgatem a memória de militantes ou produções de Organizações que possuam uma perspectiva libertária.
Na agitação viemos para quebrar as correntes da dominação e não nos silenciarmos diante da exploração e genocídio do povo Negro e pobre. Unir os quilombos periféricos e lutar contra o Estado assassino que só nos oferece migalhas de forma gradual é nosso dever.
Esperar um salvador da pátria ou que qualquer partido possa fazer algo ou parar o holocausto Negro é continuar com uma mente colonizada, subserviente e hierarquizada, por isso é fundamental a propagação da voz e luta sob a perspectiva Negra. Quantas Negras e quantos Negros não morreram com a farsa gradual do “fim da escravidão”? Fim do tráfico negreiro, Lei do ventre Livre, Lei dos sexagenários e a Lei Áurea, foram leis com uma perspectiva de fim gradual, uma falsa abolição, mas, enquanto isso, nas senzalas, porões e ruas as surras continuavam; os gritos dos açoites faziam parte do cotidiano; Um F feito em brasa no rosto de quem tentava fugir era mais uma marca deixada pelo sistema escravista; órgãos genitais eram arrancados, entre outros horrores feitos pela supremacia branca capitalista.
A tradição de luta Negra é longa e aprenderemos com nossa vasta experiência. É necessário forjarmos práticas educativas antirracistas, pois se dependermos do Estado ele nos direcionará para uma história “oficial”, uma educação acorrentada, que não nos leva para nossa raiz, nossa ancestralidade genitora. Zumbi e Dandara nos dão o exemplo e dizem: todo o povo Negro é livre ou não tem conversa. A Roda de estudos vem para semear, cultivar e partilhar novas e ancestrais práticas educativas de nosso povo, contribuindo com nossa total emancipação. É o nós por nós, já que “as ferramentas do senhor nunca vão desmantelar a casa grande” (Audre Lorde)
Palavras ESCURAS como referência para a LIBERDADE e IGUALDADE
Pelejaremos pela Liberdade cerrando as correntes que nos prendem, assim como os Negros escravizados da embarcação Laura II em 1839 (escuna que passava pelo litoral cearense com destino ao Rio de Janeiro). Os Negros rebelados tomaram a embarcação e fugiram pela praia de Arapaçu (atual Iguape). Os rebelados foram executados, assim como milhares de pessoas Negras foram e são nos dias de hoje. Sabemos que o genocídio prossegue e as chacinas estão aí bem presentes em nosso cotidiano, “mas não temos nada a perder senão as nossas correntes” (Assata Shakur), então é fundamental nossa auto formação para nossa autodefesa e empoderamento da luta antiautoritária Negra.
Aperrearemos pela Igualdade com a ferramenta da Interseccionalidade, pois não enxergamos hierarquia de opressões e visualizamos a intersecção da raça, classe e gênero. Concordamos com a Negra, feminista e lésbica Audre Lorde, que dizia:
“Não existe hierarquia de opressão. Eu não posso me dar ao luxo de lutar por uma forma de opressão apenas. Não posso me permitir acreditar que ser livre de intolerância é um direito de um grupo particular”.
METODOLOGIA
A Roda de estudos mensalmente se reunirá, podendo também organizar alguma atividade. Debateremos a partir de textos, documentários, elementos conjunturais e demandas pessoais. Os diálogos informais e ações de cunho social que o grupo possa realizar será uma outra ferramenta importante de fortalecimento da luta antiautoritária Negra.
A proposta principal é que o grupo seja um espaço de problematização de situações, com o intuito de elaborar coletivamente sugestões de mudança ou intervenção na realidade, promovendo ações concretas sobre ela.
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Marcelo Steil