Informações sobre a situação dos Kaingang que foram presos em Faxinalzinho (RS) após conflitos com agricultores + Palavras de dois dos presos

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Em 27 de abril passado, em Faxinalzinho (RS), um protesto foi realizado pela comunidade Kaingang de Kandoia, estradas foram bloqueadas, pois, os kaingang do norte do Estado estão em uma luta pela sua terra.

No momento do protesto, rolou conflitos e dois agricultores acabaram mortos. No dia 9 de maio, representantes do governo do rio Grande do sul, o secretario do desenvolvimento rural, representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), entre outros políticos convocaram os kaingang para uma reunião “de conciliação” no município de Faxinalzinho, à qual decidiram ir. No inicio da reunião, a policia federal chegou e prendeu 7 pessoas. Foram levados de noite a Porto Alegre e ficaram recolhidos na prisão da superintendência da polícia federal até por volta das 11 horas do sábado. No final da manhã do sábado foram transferidos para o presídio de Jacuí, em Charqueadas no interior do RS após os presos terem recebido visita de advogado da Frente Nacional Quilombola e de missionário do Cimi. Entre os presos se encontram Deoclides de Paula, Daniel Rodrigues Forte, Nelson Reko de Oliveira, Celinho de Oliveira e Delmiro de Paula. Outros dois já foram liberados.

Mesmo tendo diferenças de perspectiva de luta queremos manifestar o nosso apoio sincero aos kaingang em guerra, aos que não abaixam a cabeça frente às estratégias do estado difundindo terror através do isolamento e da violência tanto física como simbólica recebida pelos habitantes da terra kaingang Kandoia. Vale ressaltar, que o processo judicial encaminhado esta cheio de irregularidades, mas, como anarquistas, não encontramos sentido em valorizar esse tipo de fatos, que, no final das contas, somente reforçam o sistema penitenciário e a prisão como instituição normalizada. Portanto, difundimos aqui as palavras de um dos presos.

“O pessoal aqui nos acolheu muito bem. Tudo o que sofremos lá fora, da polícia, aqui foi o contrário. A gente estava só com a roupa do corpo. Aqui, quando chegamos, os presos procuraram roupa que poderia nos servir. Ganhamos calça, camisa, blusa, é que está ficando frio. Eles nos deram comida, nos trataram com respeito. Pode dizer lá para as nossas esposas que estamos bem. A gente sabe que eles estão sofrendo lá, que não sabem o que está acontecendo, mas diz pra eles que a gente está bem. Que se mantenham firmes, isso aqui vai passar. A gente sabe que eles queriam prender qualquer um da nossa comunidade, eles precisavam prestar conta pra sociedade. Nós caímos numa emboscada porque confiamos nas autoridades. Mas agora eles precisam se unir (os Kaingang) ainda mais. Não podem aceitar negociação. Se precisar ficar aqui 30 anos a gente fica. Eu suporto o peso da injustiça, suporto a prisão, nem que seja por 30 anos, se as nossas terras forem demarcadas”.
(Deoclides de Paula)

Tudo nosso apoio aos presos e axs seus proximos que seguem lutando em Kandoia!

CNA Porto Alegre